quinta-feira, 7 de abril de 2011

Almofada para Marília, de mar e ilha


Margarida é nome de flor, mas foi uma rosa que ela escolheu fazer. Um presente delicado e super fofo (literalmente) para uma amiga que ela nem conhece. 

Marília (Latché) começou sendo minha professora e acabou me ensinando muito mais que le français. Lembro da primeira lição extra-curricular... Durante um jantar muito agradável (inclusive ao paladar), na casa de um dos nossos colegas de turma, disse, erguendo um copo na altura do rosto, com uma naturalidade inerente a ela: 

- Ser feliz é tão simples. A gente não precisa de nada. Basta querer.

Mais tarde ela foi me deixar na casa das minhas tias e foi embora, deixando aquilo comigo até hoje. Fiquei pensando em ser feliz, com insitência e leveza.


Mais tarde ainda, com nossa convivência, ela me ensinou a liberdade que fala ser dos franceses, mas que ainda acredito ser mais dela que de qualquer cultura. Queira, faça, vá. Il faut se faire violence para tudo. O imperativo para ela é sempre uma sugestão, até na sala de aula. "Façam o exercício número 2 do Ecrir para a nota, ou não." Façam se quiserem. E se não quiserem ou não puderem fazer, não se sintam culpados. Vocês fizeram o que foi possível naquele momento.

Do amor e da fraternidade, como ela me falou... e com ainda mais liberdade. Porque ninguém é de ninguém. E essa individualidade que parece tão física, se expande dentro da cabeça de quem é dono de suas vontades. E todos somos. Resta saber. Ela me disse o que é a sociedade e como ela pesa na gente, assim como o que é a realidade individual, porque o que a gente sente é só nosso.



Que o amor acontece (e transborda em conversa ou poesia), que as relações sociais são só ideias, que não é preciso corresponder sempre às expectativas dos outros, que é preciso abrir as portas, tanto para o que vem, quanto para o que vai embora, Marriliá, m'a dit.

Ela me ensinou poesia sem rima, uma assim... de vida. É tanta coisa que nem cabe aqui. Falta espaço e pertinência para expor.
Talvez até ela nem tenha me ensinado tanto, mas me mostrou os caminhos do aprendizado, como a excelente professora que é, além de mestra na pedagogia da amizade.

Ao se despedir, às vezes ela usa uma expressão bem "da gente", potiguar. "Vou cuidar". Mas agora ela vai cuidar longe, longe. Vai cuidar dela, de Laurent, de Elisa e do bebê que espera.



Talvez volte em três meses, talvez não. E assim como minha mãe gosta dela antes de conhecê-la, já tenho saudades mesmo antes de ela partir, torcendo para que seja muito feliz en France.

E eu tô sempre aqui. Agora, toda marília...

"enchi os olhos de mar". Au revoir.

2 comentários:

  1. O que um burro velho do esporte pode dizer sobre uma coisa tão linda como essa? Só que parei, li,reli, escutei uma, duas, três vezes. Maravilha de texto, eespcial mestra. Que sorte a sua. Belinha, você é demais. Esse seu espaço é lindo, divino...

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  2. adorei o post. e eu que vinha me falando a tanto tempo que é só querer ser feliz, só isso...

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